quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A Intolerância Religiosa, suas causas e contradições




A intolerância religiosa contemporânea nos leva a reflexões de muita complexidade. Não se ter apenas uma visão pragmática, porque nos levará a permanência das causas e nada modificará, pois estaremos fortalecendo os interesses de uma cultura de guerra imposta a milhões de anos. Esta cultura de guerra permite a manutenção da disputa, da competição, do poder;  das crenças religiosas, imbuindo aos crentes à ideologia da fé cega, fanatismo, racismo, desamor, desrespeito, descrença e do medo.

 
Nasci na classe social menos favorecida de Florianópolis e Umbandista. Meu primeiro batismo foi no Centro Espírita de Umbanda Caboclo Turi, com um mês de vida. Fui criada na Umbanda com sua filosofia, praticas e artes. Tudo era belíssimo até o momento que fui estudar na escola de ensino fundamental. Minha mãe, professora dedicada, já me inserindo ao bom estudo, buscou inserir-me num colégio de “freira” com bolsa de estudo integral. Neste dia começou o drama na minha vida. A aula de religião, desde o pré-escolar, me conduzia a crer que a querida Umbanda era coisa do mal. Na metade daquele ano me fiz ser expulsa para desespero da minha mãe. Não tinha clareza o que me fazia ser tão peralta com  6 anos de idade já enfrentava a dislexia que me acompanha até os dias de hoje, e que dificultava muito minha vida escolar, além da  falta de indulgencia das “irmãs de caridade”.  Foi muito difícil e eu fui para uma escola estadual. Mesmo mudando de escola quis entender que Deus era aquele que estava sendo ensinado nas escolas. Busquei fervorosamente fazer a primeira comunhão aos 7 anos, porque precisava entender este Deus. Segui os preceitos cristãos católicos e não compreendia Deus, porque na igreja pregavam muita coisa diferente da minha querida Umbanda que aprendi a amar com todo o meu Ser. Mesmo vivenciando e sendo católica eu era constantemente chamada de macumbeira ou filha de macumbeira. Nunca fui convidada a participar de aniversário de “amigas” porque eu era macumbeira, era filha de macumbeira.Desisti de ser católica. Fui viver a vida de forma descrente. Ser umbandista era ir para o inferno e ser católico também, afinal Deus punitivo não era coisa boa. A adolescência foi difícil sem uma crença. Não queria viver estigmatizada, quis esta inclusa numa sociedade e o que aprendi é que a sociedade esta doente. Fui ser evangélica da Deus é amor. Que amor que nada. Logicamente, todas as religiões são boas pelo potencial do religare não pelos seus condutores. Verdade que Deus é amor, mas nos templos, entre os poderes dos dirigentes só vivenciei a cobiça, do poder do controle dos superiores aos menos favorecidos de conhecimento. Só que eu busco conhecimento permanentemente. Sou geminiana. O estigma que eu carregava novamente foi cutucado dentro da igreja e fui embora. Estigma por estigma, fui viver a minha verdade. Sou Umbandista graças a Deus. O estigma foi vivido por mim e por várias outras pessoas é até hoje um vírus que espalha uma doença terrível junto à única raça que conheço. A raça Humana.  Já fui repudiada por ser “branca” inclusive dentro do movimento negro; já fui repudiada por ser Umbandista pelos candomblistas e pelos espíritas. O estigma é um mal criado pela cultura de guerra para aniquilar sua, minha, nossa identidade.

Vimos falar sobre a intolerância religiosa, porem para adentrarmos neste tema é necessário observar várias facetas e intenções por trás de cada movimento e manifestação individual e coletivo, para compreender e então extingui-la. Sim, precisamos compreender as facetas da intolerância para poder criar estratégias para a extinção desse mal que nos aflige.
Primeiro precisamos entender a intolerância religiosa. Intolerância é a falta de tolerar. TOLERAR, conforme o dicionário significa:
1. Sofrer o que não deveríamos permitir ou o que não nos atrevemos a impedir.
2. Consentir; permitir: suportar; aguentar; admitir, Aceitar com indulgência – ACEITAR (grifo nosso).

A tolerância é a “boa disposição dos que ouvem com paciência opiniões opostas às suas”. A tolerância precisa ser transmutada e passar pela aceitação que significa receber com gratidão. Aceitar a Verdade Divina sobre todas as coisas é uma questão Sine qua non. Quando aceitamos a Verdade, aceitamos as diferenças, aceitamos o amor, aceitamos o outro, e encontramos a paz em nós mesmos. Sim aceitar as diferenças é nos permitir viver em paz.

ACEITAR[1] o outro é se colocar na posição do outro. O Outro que falamos é o nosso irmão. Sim irmão. Somos todos irmãos. Se colocar na posição do outro e compreender como um ser humano com eu escolhe vivenciar uma religião diferente de mim, ter uma visão diferente,  outro lado da Verdade. A Verdade tem vários lados, muitas visões e nós temos muita dificuldade de aceitar o lado oposto da nossa visão. Porque vivenciamos a cultura da guerra e esta cultura nos faz querer ter a razão e quem tem razão deixa de ser feliz na maioria das vezes.
Só aceitamos quando conhecemos, então devemos conhecer o diferente. O conhecimento possui quatro pilares: a arte, a filosofia, a tradição sapiencial e a ciência. Então precisamos entender cada tradição, todas as filosofias de vida, todas as artes e todas as ciências. A busca pela Verdade.
Quando aceitamos a realidade estamos dando o primeiro em direção à transformação. Devemos transformar, incessantemente, este paradigma para o da cultura de paz. Passar do verbo intolerar para o ACEITAR.   A aceitação da fé do outro passa pela caridade, pela bondade, pela generosidade, pelo respeito a Deus, PELA COMPAIXÃO, pelo SAGRADO[2].

A intolerância religiosa é o Bullying. Sim bullying. Bullying não é só escolar; é militar, é social, é religioso, foi criado pela cultura de guerra. Bullying é uma expressão em inglês que significa toda a violência não física, todo o tipo de agressão e condutas verbais, desde os simples insultos, a fazer piadas e gozações, o uso de apelidos cruéis a ridicularização. Bullying é uma forma de pressão social que acarreta, por vezes, traumas muito importantes na vida dos seres humanos que são sujeitos diariamente a este tipo de maus-tratos.  Bullying é assédio, é intimidação, é implicar, é agressão social.

A intolerância religiosa é racismo. O racismo é a tendência do pensamento, ou o modo de pensar, em que se dá grande importância à noção da existência de raças humanas distintas e superiores umas às outras, normalmente relacionando características físicas hereditárias a determinados traços de caráter e inteligência ou manifestações culturais. Ao longo da história, a crença na existência de raças superiores e inferiores -- racismo -- foi utilizada para justificar a escravidão ou o domínio de determinados povos por outros. É cultura de guerra, um povo de poder sobre o outro em todos os níveis inclusive de impor a crença religiosa. Vemos isso diariamente na TV.


O Dia da Consciência Negra foi criado para retratar, sistemática e permanentemente a disputa pela memória histórica de um povo que teve seus direito abolidos pelo poder de outro povo que acredita na cultura de guerra.  Preservar a memória de um povo é uma das formas de construir a história.  
Faz parte da história de um povo a arte, as tradições, a filosofia e a ciência desse povo. Dentro do pilar das tradições do povo africano, atualmente no Brasil, podemos falar dos rituais de matriz africanas ou os afro-brasileiros como a umbanda e o candomblé que faz parte desse movimento. Entretanto, vemos que há muita gente que faz parte do movimento negro que repudia a religiosidade das divindades africanas, dos orixás e essas pessoas do movimento negro praticam o racismo, o bullying religioso por não aceitar a origem de mais de 5.000 anos de existência da religião de matriz africana.  Observamos o que esta acontecendo no mundo.

Teerã passou pelo grande encontro, pelo dia do sacrifício. O Eid al-Adha ou "Festa do Sacrifício" muçulmana marca o fim da peregrinação anual à Meca. Segundo a tradição islâmica, é uma celebração em memória da disponibilidade de Abraão de sacrificar seu filho Ismael para Alá - na hora do sacrifício o menino foi substituído por um carneiro[3].

Precisamos desenvolver o paradigma de PAZ[4].  Paz é dança. A paz é o caminho como nos ensina Gandhi. Paz é o abraço afetuoso. Crema nos ensina que devemos lutar pelo Ser e não pelo ego.

A cultura de paz nos ensina a compartilhar, a viver no Sagrado, a aceitar a vida humana em sua plenitude, em sua inteireza, é transformar o mundo num mundo melhor, é ser a transformação que você quer no mundo (Gandhi), é fazer o mundo um bom lugar para se viver, é abandonar os dramas, as dores, o pessimismo, as frustrações. Viver em paz é desapegar, é transformar, é transmutar, é viver consciente, é viver a entrega, é estar disponível, é estar a serviço da Luz.
Estar a serviço: o viço do ser. É focar a lei do amor. É estar vazio do ego e dos apegos.
Oh Mestre! Fazei-me um instrumento de vossa Paz. São Francisco de Assis

Onde esta o Sagrado. Dentro de você, em sua volta, no mundo, no cosmo, em Deus? Onde esta? Dentro dos templos, na natureza, no ser humano, na vida? Onde e quando eu vivencio o sagrado? Vamos refletir.

                                                Oração Dos Nativos Africanos Pela Paz[5]

Deus Todo Poderoso, Grande Polegar que ata todos os nós, Trovão que Ruge e parte as grandes árvores; Senhor que tudo vê até as pegadas do antílope nas rochas, aqui na Terra, Vós sois aquele que não hesita em responder a nosso chamado. Vós sois a pedra angular da Paz.

Axé de Paz e Luz!

Obs. Convidamos a todos para participar no dia 22 de novembro, do debate sobre o assunto desse artigo
Horário: 10h00min
Local: CELESC
Palestrante:
Babalorixá Oba Oso Pakin Thibes
Tatalorixá Kátia Regina Luz d’Omulú
Profº. Evandro de Oliveira Brito


[1] CREMA. Roberto, Saúde e Plenitude. Um caminho para o ser. São Paulo: Summus, 1995.
[2] ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. [tradução Rogério Fernandes]. – São Paulo: Martins Fontes, 1992.
[3] Fonte: terra.com.br. http://pt.shvoong.com/humanities/1773371-que-%C3%A9-bullying/#ixzz2AV4NEtPV
[4] FHB – Formação Holística de Base da Unipaz
[5]  Fonte: unipazsc.org.br