segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O luto na Umbanda e na vida

Saravá irmãs e irmãos de fé,
“A benção para quem é de benção, kolofé para quem é de kolofé, mucuiu para quem é de mucuiu e motumbá para quem é de motumbá”
Aos mais velhos, meus respeitos - Mo Juba,
Aos mais novos, Salve os nossos Anjos de Guarda ,
Nossa casa está em luto pela passagem recente da nossa sacerdotisa/mãe/zeladora/mestra/irmã Dilma de Iemanjá Ogunté, ocorrida em 07 de julho de 2010. Dia mágico para muita das tradições pela simbólica do número mágico 7 como também era dia regido pelas energias de Oxaguiam – a Luz do amanhecer – a universalidade da benção. Oke di baba! Xiuepa baba!
Desejamos esclarecer a toda comunidade leiga e não leiga sobre os diversos momentos que nosso templo está passando e o quanto tudo isso é normal. Não normal seria proceder como se nada estivesse acontecendo.
O período de luto é importantíssimo para vivenciarmos a tristeza da dor para poder renascer. Só assim viveremos na plenitude do ser.
Este período de luto também serve para que a corrente mediúnica do templo se reestruture, para que as energias do axé da mãe de santo ancestral se acalmem, esfriem, dissipem, para que tudo silencie.
É no silêncio que Deus fala conosco. É no silêncio que percebemos o pulsar da vida. É no silêncio que bebemos na fonte da sabedoria. É no silêncio que o Pai e Eu somos UM. É no silêncio que estreitamos a nossa relação com Deus. Atotô!!! Meu pai Omulú
Durante o período do luto, durante o silêncio das Almas, a corrente mediúnica vai se movendo num passo lento, com sincronicidade e fluidez, para a uma nova agregação entre aquele os pares que permanecem e com aquele que sente o chamado. A nova corrente mediúnica vai surgindo, se interligando, se incluindo, se unindo, se adaptando ao novo ciclo. - A Run Boboi!!!  Oxumaré
Durante o período de luto, acontecem vários rituais que não se compara ao axexê do candomblé, porém, simbolicamente, é o mesmo ritual. Será dessassentado todo o templo e despachado todos os axés da sacerdotisa que até então foi o alicerce da casa de santo (os pessoais da ialorixá-tata são despachados junto com o corpo). O nosso alicerce é a relação e esta relação agora será a lembrança e viverá para sempre no Universo, no mundo espiritual, na Luz. É necessário o nosso exercício do desapego, libertando assim todas as energias entre a sacerdotisa-ancestral e os espíritos encarnados, isto é, sua família de santo e segurança da casa.
Durante o período de luto acontece a fundação no novo ciclo. Será re-assentada a casa de santo com os axés da nova sacerdotisa, aquela que aceitou compartilhar seus axés à corrente mediúnica que está se formando e a comunidade como um todo e subseqüentemente a relação formada entre a sacerdotisa-ancestral, o novo ciclo, os novos orixás que regerão o templo, neste caso específico, Omulú e Iansã em suas energias originais.
O dessassentamento e o re-assentamento são, desde as cangiras de exu e almas até as geometrias sagradas do triângulo e do quadrado dentro do templo, isto é da Tríade do ritual de Almas e Angola, o pentagrama (estrela de cinco pontas) e os quatros pontos, as quatro forças elementais que sustentam os templos de Umbanda do ritual de Almas e Angola em forma de colunas energéticas.
Todo este processo ocorre em um ano, para algumas casas acontece em tempo menor noutras um pouco maior.
Não sabemos tanto tempo nossa casa estará vivenciando este processo, entretanto, solicitamos aos nossos irmãos de santo e de caminhada na fé que exerçam a paciência com o orixá Tempo, pois estamos, neste momento, em suas mãos. Só o Tempo nos dirá quando findou este processo para que o templo abra suas portas a comunidade em geral.
História do nosso templo umbandista
Nosso templo é um dos mais antigos dentro do município de Florianópolis, existe há mais de sessenta anos. Já vivenciamos duas passagens de sacerdotisas.
Primeiramente nosso templo foi regido pelas forças da Umbanda das sete linhas com a primeira sacerdotisa-baba com o axé de Xangô e Oxum, que após sua passagem foi regido pelas forças da Umbanda de Almas e Angola com os axés da segunda sacerdotisa-tatalorixá com os orixás Iemanjá e Ogum.
Cabe ressaltar que quando houve a sucessão da Baba Ana para a Baba Dilma o nosso templo foi devidamente registrado conforme a legislação brasileira, isto é, somos uma entidade sem fins lucrativos desde 1982 e declarada de utilidade pública estadual pela Lei nº 7.240 de 09/05/1988 e por estes termos legais é considerada um dos primeiros templos da religião de Umbanda e reconhecida como Organização Religiosa pelo Estado.
Como todo templo da religião de Umbanda e também de Candomblé, nosso templo funciona em terras particulares, cedida por tempo determinado a sacerdotisa. Este tempo determinado sempre foi até sua passagem ao grande Olorum. Na primeira sucessão o templo mudou de endereço, isto é, foi transferido da Rua Tobias Barreto, nº 281, antiga Ponta do Leal, hoje Balneário do Estreito para a Rua da Praia, nº 50, Tapera, onde funcionamos até a presente data. Nesta segunda sucessão esta sendo acordada a permanência da cessão junto à família carnal da sacerdotisa – o que é um processo normal. O viúvo que é o mantenedor do templo já se comprometeu que permanecerá o templo onde está até o momento, isto é, continuará suas atividades na rua da praia, nº 50 – no bairro da Tapera... Porém o processo sucessório na justiça dos homens sempre é moroso e o tempo vai mudando muitas decisões, muitos pontos de vista... Enfim estamos abertos para aceitar o movimento natural da vida e somos sabedores que a Luz nos conduzirá, afinal Deus sempre nos levará onde sua graça nos alcança. Kaô Xangô Kabecili!
Nossa explanação vem ao encontro e ao respeito a toda comunidade almas angolense e em geral para terem conhecimento que estamos num longo e moroso processo, porém honraremos os nossos ancestrais: a sinhá Ana Francisca de Xangô e Oxum e seu mentor Caboclo Turi – mãe carnal de mãe Dilma que fundou o Centro Espírita irmão Octaviano Ribeiro – Tenda Espírita Caboclo Turi e a mãe Dilma de Iemanjá e Ogum e sua mentora vovó Sofia que recebeu e transformou sua sucessão no Terreiro de Umbanda Reino de Iemanjá – TURI.
Roberto Crema, reitor da Unipaz disse numa entrevista: “O problema é que todo mundo quer renascer, mas ninguém quer morrer.” Quando somos afastados de uma pessoa que amamos pela passagem de dimensão, também morremos, este é o luto. Afinal, “a vida é muito maior do que aquilo que os nossos cinco sentidos conseguem captar”. WF

Breve biografia da nova sacerdotisa:
Kátia Regina Luz d’Omulú, filha carnal de João Alfredo e Dilma Ana. Graduada em Direito pela UFSC, Especialista em Transdiciplinaridade em Educação, Saúde e Cultura de Paz pela UNIPAZ-SC e em Gestão Estratégia pela UNISUL-SC, com formação em Dinâmica de Grupos pela SBDG-RS, Florais de Bach pelo Instituto Dr. Edward Bach – Campinas–SP, Bioenergética pela Faculdade André Luiz – PR, Reikiniana método USUI pelo Centro de Metafísica Atman Amara. Sensitiva e Terapeuta de cura da tradição umbandista desde 1988, utilizando vários processos de cura como quelação, cromoterapia, fitoterapia-ervas, radioestesia, aromaterapia, cristais e pedras em geral e faz leitura de oráculos. Palestrante motivacional e da tradição umbandista.
Atualmente é presidente da Associação dos Templos de Umbanda do ritual de Almas e Angola – ATUAA e conselheira do Conselho de Sacerdotes da ATUAA, conselheira do Conselho Municipal de Florianópolis da Igualdade Racial – COMPIR; conselheira do Conselho Estadual da Pessoa Deficiente – CONEDE.
Foi conselheira do Conselho Estadual de Drogas e do Conselho Gestor da UNIPAZ-SC, foi membro da secretaria geral do Festival Mundial da Paz como uma das representantes do Governo Estadual.
Nasceu na Umbanda em 23 de maio de 1959, as zero hora e trinta minutos, geminiana com ascendente em peixes.
Batizada e criada na Umbanda, pela sua avó materna Ana Francisca, conhecida por sinhá Ana do Caboclo Turi que ensinou sobre as ervas, os elementos fogo, água, ar e terra seu poder e sua magia, ensinou a ler as estrelas e abençoar todas as criaturas de Deus. Ensinou que a natureza é o todo e que devemos preservá-la, que o sol nos aquece o coração e a chuva refresca nosso espírito, que a terra nos dá a fundação e o ar nos dá o sopro, o Espírito Santo. Que o espírito é eterno e que Deus mora dentro de cada ser humano e que vivemos nos ciclos e que morremos para renascer na Luz. Que viver bem é viver o agora. Que Deus perdoa e liberta.
Ialorixá de Umbanda do ritual de Almas e Angola – set de 1988, consagrada pela Ialorixá Hilca de Iansã, fundadora da Tenda Espírita Santa Rosa de Lima.
Regência dos orixás Obaluaê e Iansã.
Seu Destino: a busca da sabedoria representada por um cantinho isolado e silencioso, cercado de livros, este é meu ideal de realização.
Foi consagrada, em 2009, no grau de Tatalorixá de Almas e Angola pela sua irmã de santo mais velha – mãe Nilva de Oxalá – sua zeladora, e em setembro de 2010 deu posse no cargo de sacerdotisa do Terreiro de Umbanda Reino de Iemanjá, entregando o “Ala”, abençoando-a para o novo  caminho, o caminho do sacerdócio de Umbanda.
 Com as bençãos de Deus-Pai, Deus-Mãe e do Mestre da Luz Jesus e dos axés dos orixás.

Axé de Paz e Luz!