sexta-feira, 24 de junho de 2022

Xangô e o Sincretismo Religioso

Primeiramente, peço escusas pela ausência, neste espaço criado para reflexões e trocas de experiências. Um dos maiores motivos é que nem sempre penso que a escrita vai oportunizar uma reflexão e, nesta "corrida por curtidas" que existe nas redes, me assusta um pouco. 

 Hoje trago um tema que me faz pensar e debater e me proponho aqui, neste espaço reflexivo, ouvi-las e ouvi-los um pouco.
Há muito tempo faz-se sincretismo com os Santos do cristianismo. Na época foi bem necessário para que o culto dos orixás pudessem acontecer. Todavia, percebo que atualmente, isso não é mais necessário, porém permanece esse sistema. 
Busco ter um olhar naquilo que aprendi estudando a magna mãe Stella de Oxossi que em 1983, publicou no antigo Jornal da Bahia, uma ampla reportagem mostrando a sua luta para consolidar a verdade de que “Santa Bárbara não é Iansã e nem Iansã é Santa Bárbara”, e que o sincretismo diminui a potencialidade tanto do orixá quanto do santo. 

Quando estudamos, por exemplo, São João Batista podemos aprender que a vida dele e sua missão não parece nada com a mitologia do orixá Xangô. 

De longe podemos associá-los. "Estudiosos mostram que, possivelmente, São João Batista teria participado da vida monástica de uma comunidade rigorista, na qual, à beira do Rio Jordão ou Mar Morto, vivia em profunda penitência e oração... Que a partir do texto de Mateus: “João usava um traje de pêlo de camelo, com um cinto de couro à volta dos rins; alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre”... O que o tornou tão importante para a história do Cristianismo é que, além de ser o último profeta a anunciar o messias, foi ele quem preparou o caminho do Senhor, por meio de seus discursos precatórios “Voz do que clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, tornai retas as suas veredas’!” Xavier. Catarina 

São João Batista assumia essa missão com lucidez. 

Outro ponto da vida de São João Batista que não se iguala a Xangô. Ele diz logo após ter batizado Jesus: “Agora a minha alegria é completa. Ele deve crescer e eu, ao invés, diminuir”. 

Falar de Xangô é falar o Rei de de Oyo. Como podemos diminui-lo? 
Xangô foi o quarto rei da cidade de Oyó - Nigéria - África, que era o mais poderoso dos impérios iorubás. “Depois de sua morte, Xangô foi divinizado, como era comum acontecer com os grandes reis e heróis daquele tempo e lugar, e seu culto passou a ser o mais importante da sua cidade, a ponto de o rei de Oió, a partir daí, ser o seu primeiro sacerdote” Pradi, Reginaldo. 

Lembrando que não há escritos sobre a história de Xangô pois a tradição da oralidade é Princípio Básico na passagem do conhecimento da matriz africana. 

Xangô é Rei da pedreira, Rei do trovão, Rei de Oyo - tradição Yorubá.  Na tradição Angola, o nkisi dos trovões e relâmpagos é chamado Nzazi. Xangô orixá da Justiça e da Verdade. Xangô é aquele que resolve impasses e lidera seu povo como ninguém. Atenção: ao pedir por sua intercessão em questões de justiça, deve-se assegurar de estar correto na questão, para não cair na ira do orixá. 
Xangô é vaidoso, rico e elegante, absoluto nas montanhas e pedreiras, seus domínios naturais. 
Podemos encontrar o sincretismo também em várias outras divindades de diversas tradições, como por exemplo Zeus (gregos), Tupã (Tupi-Guarani), Júpiter(romano) ou Odin(escandinavos). 

Se pesquisarmos também, as histórias de São Pedro, São Paulo, São Jeronimo veremos que nada condiz com o orixá Xangô.

Na esperança de ter conseguido alcançar um pouco mais de entendimento sobre o sincretismo religioso e quanto ele não nos cabe mais na tradição afro-brasileira, deixo aqui registrado que a fé em Xangô, em São João Batista e em outras divindades  não depende e não dependerá jamais da importância de desfazer esse equívoco sincrético, pelo contrário, nos fortalecerá conhecer o Poder de cada Divindade e de resignificar a conexão da Fé. 

 Axé de paz e luz! 
Que Omulú, Iansã e Oxalá nos bençoe sempre na Luz de Zambi! 
Iyalorixá Kátia Luz d’Omulú

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Tolerância e Fraternidade: A vida em primeiro lugar

 

Artigo palestrado por Kátia Regina Luz no VIII Encontro Inter-religioso da FACASC com o tema: Tolerância e Fraternidade: A vida em primeiro lugar

Sarava, saravá!!!

Peço a benção a todes, minhas irmãs e meus irmãos de fé e de caminhada evolutiva

 

É uma honra Celebrar o Dia Internacional da Tolerância instituído pela ONU, esta oportunidade nos impulsiona a sair do estado de vítima para a de protagonista na co-criação de um mundo melhor.

É dever de todos nós, que desejamos viver em paz e fraternalmente, contribuir de forma ativa nessa Ecologia Social e na Ecologia Ambiental que é viver em estado de tolerância, isto é, como humanos com dignidade, justiça e equidade.

 

O Planeta é um Ser Vivo e devemos cuida-lo e isso inclui cuidar primeiro da Vida, da nossa vida, da vida do outro, da vida da flora e da fauna, da Natureza. Nosso planeta é lindo, Deus nos proporcionou toda essa Beleza e quando não vemos beleza é porque estamos fragmentados, separados do todo.


Nosso planeta é azul e nós também somos, mas não vemos assim a não ser quando ampliamos nossa visão

Todo azul – nós também somos todo azul – é a 1º camada de luz no nosso corpo humano que somos formados pelo corpo físico – etérico – emocional – mental inferior e superior – espiritual – Espirito (divina Presença)

 

Uma pequena história da vida que vivemos para nos conectar com o Somos Um

Isto ocorreu em novembro de 1984.

Eu tive a visão do Planeta quando, involuntariamente, fui projetada do corpo físico ao cosmos. No momento, me vendo flutuar em pleno Universo pensei que tinha morrido e sem saber o que fazer naquele instante, perguntei à Deus o que estava acontecendo, se aquilo ali era morrer, questionei o momento, porque exatamente naquele momento? eu estava na arquibancada de um estádio assistindo um jogo de futebol; porque não escolher outra hora?

Comecei a sentir medo, e com todas essas dúvidas pedi auxilio a Deus. Pedi uma “mão” e olhei mais para cima de mim e vi, vi uma grande mão e eu me esforcei muito a chegar até ela, e me agarrei com tudo. Olhei para saber de quem era aquela mão forte, linda, brilhante, morena. Um homem negro veio e meu deu a Mão. Ele tinha barbas brancas, usava uma roupa branca e uma pequena cruz de madeira no pescoço, olhos escuros de um amor profundo, rosto redondo e um largo sorriso que me acolheu. Naquele momento eu soube que somos, verdadeiramente, protegidos por uma larga camada de Seres de Luz.

Segurando firme naquela gigante mão que me sustentou, olhei para baixo, dando meu “último olhar” e me despedindo da terra e vi o Planeta, lindo, flutuando na galáxia sem nada próximo, um ar puro em volta de si, todo coberto de um azul brilhante translucido, incrivelmente, Belo. Neste momento, do nada, comecei a descer muito devagar, mas sentido entrar na crosta terrena, mirei a América do Sul, busquei Santa Catarina, mirei Florianópolis, mirei o Estreito, o estádio e ... ufa!! mirei eu e .... voltei! meu coração batia com muita velocidade, meu amigo ao meu lado apavorado e perguntava se eu estava bem ..... enfim nos próximos dias sucessivos, busquei entender o que aconteceu, todavia voltei aquela pequena mente fragmentada, ao padrão normal de ser porem um minúscula partícula modificou-se e essa partícula fez toda a diferença para eu estar onde estou com a mente mais aberta e disposta a melhorar cada vez mais.

Este foi um momento Numinoso e todos nós já tivemos momentos assim que nos trouxeram para a Casa, para o Pertencimento do Todo. Foi assim que comecei a ser tocada que nada era o Outro e tudo era Eu.

 

Ninguém nos ensina a fazer parte, como não somos ensinados a sermos filhos, nem pais, nem irmãos e a maioria nós sente-se incapazes, invisíveis para participar de uma ação ou mesmo de estar junto na construção de um mundo de paz e fraternidade – porém Ganhi já dizia: a Paz é o caminho -

As pessoas vivem na fantasia da impotência, do reducionismo, da separatividade. Essa fantasia acontece na mente do ser humano, em nenhum outro lugar e é nos dita no preambulo do ato constitutivo da Unesco “que as guerras nascem no espirito dos homens, e é nele, primeiramente que devem ser erguidas as defesas de paz”, esta frase antológica nos leva a olhar primeiramente para a ecologia pessoal.

 Na Unipaz estudamos que para atingir a ecologia social e ecologia ambiental do ser solidário, fraternal e tolerante é necessário Despertar, com práticas integrativas, com o cuidado e por uma reeducação, isto é, necessitamos passar pela ecologia pessoal.  A Formação Holística de Base nos traz essa reeducação, essa metodologia chamada “A arte de viver a Vida” e que começa pela Arte de viver em Paz (agora em Ead)

 

O filosofo Martin Buber nos ensina que o primeiro Ser em uma relação é o EU e depois o Outro, então para construirmos um mundo mais justo e fraterno, é necessário cuidar do Eu, com meditações, orações, reflexões, síntese do dia, num exercício diário, percebendo que tudo vem para o nosso aprendizado e que este Outro sempre é nosso Espelho, disponibilizado pela nossa Divindade.

 

Já na vida do “Santo”, na vida dentro da casa de santo, na nossa Divindade eu aprendi que da energia criadora de Olódùmarè (Deus Supremo) surgiram o Ọ̀run (o céu infinito) e os Òrìṣà-Orixás (forças que proporcionam a vida no Àiyé-terra). Portanto, Orixá é vida. E vida é movimento. E Orixá vive em mim, então as forças que proporcionam vida está em mim e está no outro, então somos iguais e se o outro esta em falta é porque tenho em excesso, é necessário colocar na balança para vivermos com a mesma dignidade, isto é Justiça Divina.

 

Quando ouço a ONU nos chamar, diariamente, para participar das ações eu entendo que não necessitamos ir lá na sede da ONU e sim é pensar globalmente e agir localmente e nós ensinamos, nos terreiros que cada um pode fazer isso. Ensinamos com outra linguagem, a linguagem dos orixás, dos ancestrais, da nossa Raiz Tradicional.

 

 

Quando falamos sobre a Vida em primeiro lugar, tolerância, fraternidade, falamos em união das forças, que é nosso chamado pelo o Bom Combate (Crema)

A Unesco nos clama para o comprometimento com a dignidade humana (não a miséria de alimento – caráter – ética) e com a vida e isto está muito acima da religião, do interreligioso, do Transreligioso, isto é Espiritualidade.

Manter a vida não é um só princípio ou dar cestas básicas aqui ou ali, no natal, na pascoa, nos diz instituídos pelas crenças ou tradições – logico que cesta básica é importante porque é sobrevivência para muitos – mas, é se colocar como aprendiz – como filhas e filhos da Divindade, do Sagrado; é necessário aprender a aprender a ser Seres Humanos – se desprender dessa fantasia da separatividade do sistema reducionista e lembrar que todo o mal está na mente e se não se nos dispuser a cuidar primeiro de si mesmo, não se consegue cuidar do outro. Esse são princípios de várias escolas de “mistérios” iniciadas por Hermes: “Cure a Si Mesmo, depois cure sua família e depois cure os outros”

 

Na tradição de matriz afro-brasileira, nosso ditado é “cuide do Seu Ori”, da divindade que vive em mim (Jesus nos ensinou “Eu Sou”); vamos cuidar do Eu

Vamos Rezar; Bater Cabeça; Meditar; Cuidar de si (do seu Ori); cuidar do seu irmão, cuidar de sua família; Ver, Sentir, Ouvir o outro.

“Quem não cuida de seu Ori, Orixá não zela pelos caminhos”

São essas práticas diárias que vão fazer a diferença e nos melhorar e além disso, vamos poder co-criar com o Deus o mundo que sonhamos.

Afinal sonhar junto torna-se realidade

Se nós abraçar o Planeta como Ser Humanos – vamos sentir que já somos abraçados pelos Orixás, pelos Grandes Mestres como o Amado Jesus, Buda, Maomé, Moises, e tantos outros que fazem parte dessa Luz que nos conduz e que chamamos de Espirito Santo.

 

Que Deus-Pai, Deus-Mãe, Oxalá, Alá, Zambi nos abençoe!

Gratidão!

Axé, Amem, Shalon, Mukuiu, Kalofé!

Eu Sou Kátia

Assim falei, how!

 

sábado, 9 de maio de 2020

Felicidade e Espiritualidade - uma experiência



Transcrevo aqui a live ofertada pela Unipaz Santa Catarina e transmitida em seu perfil do facebook no dia 22 de abril.

Falar sobre Espiritualidade e Felicidade é sempre um desafio. Trago este tema baseado em experiências pessoais espirituais que me conectam com esse estado de felicidade, no cotidiano, expandindo a consciência e a quebra de padrões limitantes.
Sendo aprendiz na Unipaz desde 2005, isto quer dizer que ingressei como aluna-aprendiz na unidade de Santa Catarina nessa data, e desde então me dedico a disseminar a cultura da paz, quebrando paradigmas, mas acima de qualquer fala aprendi que mais importante é respirar, relaxar e meditar todos os dias e existem várias técnicas, desde as mais simples até as mais complexas para quem já tem experiência, por isso sugiro que encontres uma técnica que te auxilia e viver de forma mais plena.
No início da pedagogia iniciática da Unipaz, ainda que eu já caminhasse pela jornada do meu desenvolvimento pessoal e prestava serviço voluntário, eu ainda era muito “fogo”, reativa e por meio das práticas cotidianas do relaxamento, respiração e meditações aprendi, combinado com o conhecimento baseado nos pilares da Unipaz, acalmar meu ser e expandir  a consciência de quem sou, de quem somos e todo o entorno – o ambiente. E isso tem me proporcionado a tornar  um Ser Humano melhor a cada dia.
Quando ingressei na Unipaz, carregava como padrão o preconceito, inclusive com a religião que cultuava. Na jornada durante Formação Holística de Base, compreendi melhor os ritos sagrado e o respeito com o modo que cada pessoa pratica o seu próprio rito, como cada templo cumpre suas ritualísticas, bem como os dogmas de outras religiões. Foi um aprendizado e tanto. Hoje sou mais devota.
Esclareço sobre o preconceito: me culpava porque nasci numa família “macumbeira”. Eu acreditava nos estigmas que me apontava como sendo “filha do demo”, mas vivenciando os seminários da Unipaz esta fragmentação do meu ser se desfez. Estudei as tradições antigas, conheci as tradições dos povos originários de cada continente e seus ritos, e principalmente, entendi de onde surgiu e manteve a fantasia da separatividade no meu ser.
Fantasia da separatividade é um lado comum entre todos nós, e nos penetra no amago do nosso ser, isto é, no nosso mundo interior. Isso nos é ensinado por Pierre Weil
Nasci na família (materna) umbandista há mais de 60 anos, tendo a pratica mediúnica e ritualística acontecendo já há 36 anos ininterruptamente, atendendo pessoas doentes emocionalmente e espiritualmente, carentes materialmente e espiritualmente. É uma jornada e tanto.
Antigamente a Umbanda se enraizou resistindo aos preconceitos como forma de resistência e foi adquirindo dogmas e ritos trazidos pelos seus Mentores.
Tudo isso foi só para localiza-los nesse tempo-espaço.
Explano aqui a visão holística dessa minha experiência focando na abordagem cientifica, filosófica, espiritual, baseado nos pilares que são a filosofia, arte, ciência e a tradição.
Weil (1987), nosso mentor e um dos idealizador da Unipaz nos diz que “O homem se caracteriza, em seu comportamento cotidiano, por uma busca constante de felicidade, de alegria de viver, de paz interior; ele procura o prazer e foge da dor. Isto mostra que existe, profundamente enraizada no âmago do seu ser, a memória de um estado de plenitude sem obstáculos e de êxtase permanente.”
No seminário a “Arte de viver em paz” ensinamos que para viver em paz precisamos desenvolver a Paz Interior, isso implica em centrar nosso ser, nos tornar holocentrados, e para isso é necessário ter um cuidado e um olhar para três espaços:  a paz no corpo, a paz no coração e a paz de espirito.
Extremamente simplista e resumidamente a Paz no corpo implica na circulação da energia vital (prana, campo de energia universal, Ka) e no bem estar do físico
Esta energia passa por canais sutis, parte integrante do corpo físico muito difundido pela medicina chinesa e integrais – quando estes canais estão livres, tudo fica em harmonia no corpo e nos proporciona o estado de paz fisicamente falando no espaço físico, material do sentir.
Uma experiência pessoal e tomada de consciência sobre a alimentação: durante trinta anos da vida eu comia de tudo e muitas vezes sentia-me indisposta devido ao alimento e sempre culpando a comida em si e eu ficava com mau humor danado. Tomando consciência que isto vem da fantasia da separatividade existente em mim e que bloqueia os canais sutis fui me libertando da necessidade de comer alguns temperos, produtos, embutidos. A experiência com a pimenta foi a que mais chama a atenção por provocar um aquecimento nas entranhas e eu fico muito reativa depois que tomei essa consciência passei a evitar bastante a ingerir e automaticamente meus canais fluíram melhor. Na vida de santo também temos muito preceitos de não comer alguns alimentos de acordo com as iniciações ou o orixás principais do discípulo. Quando eu ingiro a pimenta, mesmo inconscientemente, sinto uma forte tensão muscular e ativa gatilhos emocionais e fico reativa. hoje não ingiro pimenta.

Quando afrouxamos essas couraças, como nos ensina Reich (1989), desbloqueamos esses nós, a energia retorna a fluir. Há vários métodos para quebrar os bloqueios energéticos, vimos nas tradições antigas bem como na bioenergética. Outros métodos para manter esse fluxo de energia vital circulando harmoniosamente são através da yoga, lutas marciais não violentas, danças circulares e, para o povo de umbanda, a “dança no santo” que libera muito dessas couraças.
Esses métodos passam, primeiramente,pelo relaxamento do corpo físico. É interessante utilizar técnicas de relaxamento quando acordamos e quando vamos dormir.
Também são importantes a dieta alimentar e a consciência no corpo físico para permitir que a energia possa fluir harmonicamente afim de manter a paz no corpo
Para a sentir paz no coração é necessário entender que ela passa pelo aspecto afetivo e emocional da paz. Para desbloquear as emoções destrutivas e curá-las, é essencial se dedicar a pratica constante dos ensinamentos, para isso o exercício – Holopraxis diária é o melhor caminho.

Como já comentei, existem várias técnicas e algumas são bem simples, podendo serem feitas sozinho, outras técnicas já precisam de um mestre ou um terapeuta para conduzir o desbloqueio emocional e afetivo.
Fatores destrutivos da paz são as emoções de indiferença (frieza emocional); apego (memoria de uma dor); cólera (paixão as avessas); ciúme (consequência do apego); orgulho (frieza emocional que surge da autossuficiência, narcisismo, sensação de superioridade-inferioridade). Estes fatores também causam doenças físicas e mantem a fantasia da separatividade que é contraria a Paz.

A melhor técnica para a paz no coração é a consciência desses sentimentos; seguidamente em transformar o ódio em amor (método não-violência) e pôr fim, a psicoterapia.
Quando buscamos a paz de espirito, olhamos como fosse uma coisa mental ou uma energia sutil, mas na visão holística ela é a espiritualidade em si – o estado primordial do ser
Vimos acontecer muito durante os transes ocasionados pelas danças ritualísticas, por exemplo.
Para sentir a paz do espirito é necessário penetrar em si mesmo, a meditação é um exemplo, todavia a paz de espirito é alcançada ou se estabelece quando a meditação te eleva para a fronteira entre o eu e o mundo, e essa fronteira se dissolve. É nesse momento que a paz de espirito se estabelece. É necessário uma disciplina em meditar duas vezes ao dia por vinte minutos, para que o padrão normótico se transforme.
São as experiências espirituais que nos eleva e quanto mais momentos vivenciamos mais seremos Paz.
Eu tive algumas experiência de paz de espirito e vou contar uma que foi incrível.
Eu pertenço a uma “escola iniciática” como já falei, a Umbanda. Exatamente, durante a 5ª iniciação. Num ritual desse, tudo no entorno deve estar organizado com antecedência e em harmonia. Eu estava recolhida e não sentia tanta harmonia assim, minha mente estava muito ativa e preocupada, algo me incomodava, perturbava minha alma. No momento de adentrar ao portal, houve uma dúvida se esse era o caminho e naquele momento, me entreguei e confiei na Espiritualidade que me conduz em um passo de mágica, me vi, totalmente sem cabelo, sentada a cima de uma edificação, olhei para os lados e percebi outras edificações iguais e do mesmo tamanho e da mesma cor. Era uma vale. O sol estava a pique todavia ele aquecia de modo acolhedor na temperatura de um útero. Senti uma leve brisa que proporcionava leveza que integrou no meu ser e naquele momento senti Paz.
Utilizo esta experiência sempre que preciso da energia primordial.

Quando vamos vivenciando diariamente a paz, iniciando pela paz no corpo, na mente e no espirito. Vamos integrando este estado de paz no ser e a felicidade passa a ser integrante.
Sempre quando falo de felicidade me lembro do samba de Martinho da Vila – felicidade, passei no vestibular, mas a faculdade era particular. Uma experiência de êxtase sobre uma conquista reflete a felicidade, mas ela logo vai embora pois a vida material não “mantem” o estado de êxtase.
Buscamos a felicidade sempre. Buscamos onde? Nos prazeres físicos, materiais, momentâneos, no sexo, no abraço, na dependência emocional em um “amor”.
Normalmente quando estamos tristes vamos para onde? Para as compras. Justificamos que precisamos disso ou daquilo e usamos o cartão de credito “porque temos o direito de ser feliz” e temos o prazer momentâneo, porém quando chega a fatura entra o desespero, a tormenta mental e a depressão, porque não há dinheiro o suficiente para pagar a fatura e começa-se a empilhar os motivos para justificar a tristeza, menos a compulsividade que é um “apego”. Se não ir as compras, vai as bebidas, jantares em restaurantes, ou viagem em férias sem uma programação previa com planejamento especifico, e lá vai os meios que são utilizado, tudo em nome da felicidade.
Weil afirma que “fomos feito para a felicidade, mas vida, a nossa existência por algum motivo tem a cor da insatisfação”. Ainda nos alega que “temos conflitos internos existentes anterior ao nosso nascimento, a gente vem de num mundo reducionista cientifico, somático, religioso, místicos e materialista ou substacialista, racionalista, mecanicista e antropocêntrico.”  Que nos leva a Fantasia da separatividade.

Quando surgiu a abordagem holística foi que se passou a unir a ciência e a tradição, a arte e a filosofia, e com essas uniões foi dissolvendo as fronteiras oportunizando darmos um passo para o desenvolvimento.
Quando focamos o olhar para as tradições espirituais ouvimos com unicidade dizerem que a paz interior, social e planetária depende da alegria, amor altruísta, compaixão.
Mais do que isso, para viver a felicidade é necessário investir em virtudes universalmente reconhecidas para a formação do ser pleno e para uma vida comunitária e solidaria: a disciplina, compaixão, responsabilidade, bem querer e o bem conviver, servir (labuta-trabalho), coragem, perseverança, honestidade, lealdade e fé. Essas integram o ser e a alma. Tudo isso junto, agregado, nos torna sagrados
Tem um mantra: que eu goze da felicidade e de suas causas
Que todos os seres, em todos os lugares, sejam felizes!

Falar de espiritualidade é falar da essência da Unidade, não de espíritos nem de um Deus religioso e reducionista, ou, limitante. É falar do Deus interno, do namastê, do saravá, do Ori – acabeça como divindade.
Na tradição afro-brasileira o Ori é a voz do coração. Há um proverbio que diz que “quem não cuida de seu Ori, tem mente fraca, frágil, pequena.”  O Ori é a sede da individualização do Ser.
Orí, eu o saúdo
Es aquele que sempre se lembra de nós
Que abençoa o homem antes de qualquer orixá
Nenhum orixá abençoa um homem sem o consentimento do seu ori
Ori, eu o saudo 
Tu que permites que as crianças nasçam vivas
Aquele cujo sacrifico é aceito por seu ori se alegrará abundantemente.
Axé!
Participando do congresso de Felicidade e Espiritualidade em Goiânia, 09/2019, ouvi muitos ícones magníficos ponderando sobre o tema, foi maravilhoso e, alguns pontos, foi de unanimidade quanto a Espiritualidade.
Há muito caminho para a felicidade, mas para a Espiritualidade é necessário a Compaixão, compaixão consigo e com o próximo; é preciso SER amor. Quanto mais somos amor, mais abastecidos e felizes somos.
Para vivenciar a Espiritualidade é necessário romper as fronteiras do eu - ego com experiências internas transpessoais. 
Segundo anotações  feitas por mim durante as exposições no congresso acima citado, foi apresentado que num estudo mais profundo é visto em escrituras viagens astrais como a de Mohammed com o Anjo Gabriel, após escrever o alcorão sagrado; o Anjo Morôi comJoseph Smithque fundou a igreja dos santos dos últimos dias (dizem que usaram cogumelos psicodélicos); Raimundo Irineu e suas visões quando fundou a igreja de santo daime, as visões da ayahuasca com o surgimento da União dos vegetais – todos experiências astrais espirituais o levaram a alterar o comportamento externo e mudaram os padrões de milhares de pessoas. Também temos o SrinivasaRamanujanque se tornou um gênio matemático com a teoria analítica dos números, funções elípticas, frações continuas e series infinitas depois do sonho com a deusa hindu Namakkal; a Madame Walker, a 1ª milionária afro-americana, por ter sonhado com um negro africano que indicava um remédio para sua cura e ela ficou milionária ajudando a milhares de pessoas; Paul MacCartney teve um sonho lindo e escreveu a canção Yesterday.
Essas são experiências únicas – isto é Espiritualidade

Para viver plenamente a Espiritualidade deve-se ter experiências não conduzidas, e nisso a contribuição das abordagens transpessoais é importante porque envolve expansão e transformação.
Só ter uma experiência astral por si só nada acrescenta é necessário expandir esse campo e se transformar, aproveitar para si e expandir a sua consciência num processo continuo.
Houve uma pesquisa sobre experiência espirituais com relação a felicidade do dr.Everton de Oliveira Maraldi, da PUC-SP. Ele apresentou, anotações pessoais, no congresso as estatísticas das experiências espirituais, e foi constatado que “as mulheres têm maior numero, e pessoas que são religiosas ou espirituais, por uso de substancias psicoativas ou por sonhos, viagens astrais ou transe”. Afirma que o número maior de experiências espirituais alinhadas à felicidade deu-se nos centros de umbanda.
Esta informação me chamou muito atenção pois a Umbanda sempre é apontada como não fosse espiritualidade por quem não a conhece e me senti muito honrada por estar neste congresso ouvindo todos esses estudos.
Vou contar outra experiência que vivenciei quando fiquei um a dois anos sem o servir como médium incorporativa, estava dedicando em auxiliar o desenvolvimento mediúnico e espiritual dos médiuns, acolher as pessoas da comunidade e apoiar as Entidades que eram consultadas por meio de suporte energético. Neste mesmo período eu exigia muito de mim profissionalmente e estudava muito; estudava a espiritualidade e o movimento das terapias alternativas e para meu autodesenvolvimento. Isso tudo junto trouxe uma sequela, tive uma aceleração das ondas cerebrais. Em tratamento neurológico fui informada que levaria mais de 5 anos para uma cura. Comecei a buscar a cura por meio das terapias que eu conhecia e por outras indicadas. Num determinado tempo, a amiga de minha mãe de Curitiba entrou em contato porque no centro espírita ao lado da casa dela receberia um médium curador, e muitas pessoas esperavam ansiosas pela estada dele. Lá fui eu. Após uma longa espera fui ser atendida pela Entidade que tocava minha cabeça na testa e nuca enquanto eu em silencio e me entregava ao processo. Depois de um tempo ele tira as mãos e pergunta o que estava sentido, falei: sinto o lado direito da cabeça dormente, ele voltou a posição original, por um tempo melhor, tirou suas mãos e voltou a perguntar o que eu sentia, repeti que estava mais dormente. Ele olha e me diz: você tem que trabalhar num centro espírita; de forma incrédula naquele momento digo-lhe: já trabalho e ele, tranquilamente me disse: é pouco, trabalhe mais. Seriamente sai bem revoltada. Em casa novamente, fui falar com as Entidades da nossa casa e elas disseram, “baba faz muito tempo, muito tempo que você não recebe seus guias, você trabalha só de corpo e mente e não de alma, deixe seus guias vir fazer o que é para fazer”. Deixei. Me curei em seis meses após essa experiência. Demonstra o quanto criei bloqueios energéticos nos canais sutis ao ponto de ter a manifestação de uma doença.
As experiência de alegria que observo nas pessoas-médiuns nos terreiros, é a expansão da consciência durante suas experiências dançando e cantando aos orixás, sendo ponte de auxilio entre as Entidades e as pessoas das comunidades de forma voluntária e amorosa, além da gratidão daqueles que vem agradecer as graças recebidas.
Mas não são só as experiência das incorporações ou sonhos que traz a felicidade. O importante é quebrar os padrões que tudo reduz, que limita e impede vivenciar mais experiências espirituais, além de ampliar, expandir e transformar a consciência, integrando sua individualização para ser pleno.
Na minha visão, pelo olhar da tradição, isso nos leva a compreender a lei de Pemba que nada mais é que as sete leis espirituais em ação.
Felicidade e Espiritualidade caminham juntas e integradas, mas denota uma disciplina, foco e determinação para as Holopraxis, praticas diárias de relaxamento, silencio, entrega e confiança na linha do caracol que expande a cada movimento.
Gratidão

Bibliografia Referencia 
REICH, Wilhelm. Análisisdelcaracter. 3a. ed. Buenos Aires: Paidos, 1986.
WEIL, Pierre. A Neurose do Paraíso Perdido. Ed. Espaço e Tempo Ltda. RJ. 1987
WEIL, Pierre. A Arte de Viver em Paz – Por uma nova consciência e educação. 13ª edição. São Paulo. 2017.


segunda-feira, 12 de março de 2018

MULHERES E RELIGIÕES - Para além da tolerância


 Caras e Caros leitores,
passando um longo tempo sem publicar, respeitando um percorrer sabático, nas publicações do blogger, venho publicar um artigo que esta sendo publicado num livreto da parceria da paroquia da Santíssima Trindade e da Faculdade Católica de SC - FACASC, onde fomos convidada para representar a religião de matriz afro-brasileira, no dia 16 de novembro (Dia Internacional da Tolerância) do ano de 2017. 
Participaram do debate os representantes do Judaísmo, Cristianismo e Islamismo, com o tema: MULHERES E RELIGIÕES: PARA ALEM DA TOLERÂNCIA

Segue a minha fala que representa apenas minha visão dentro do contexto do tema sugerido:
"...

                                    Benção para quem é de benção,  Motumbá 
   para quem é de motumbá,  Kolofé para quem
é de kolofé Sarava para quem é de saravá
Mukuiu, Amém, Aloha, Shalom,
 Aleluia, Namastê, Om Shanti

Por Kátia Luz¹ 

Representar a fé e a força das mulheres do santo – dos orixás – das mães de santo e das Santas Mães é uma profunda honra para qualquer sacerdotisa da Tradição de matriz Afro-brasileira.

Para além da tolerância ... devemos transitar até o Respeito.
Respeitar não é tolerar. Respeitar é silenciar. Silenciar não é calar a voz, é acolher o outro, como este outro se apresenta, com suas crenças, valores, opiniões e escolhas, além da sua etnia e tudo mais que o difere dos demais humanos.

Falar de Mulheres não é uma questão do feminismo, é uma questão de resgatar o Divino Sagrado da existência humana. Desde da inquisição que extinguiu as tradições matriarcais, as mulheres sobreviveram como “a costela do Adão”, tornando-a assim um objeto, o osso da costela, a segunda categoria do homem.

É impossível falar de mulheres se não nós mesmas, as próprias mulheres. Ninguém pode expressar os sentimentos, o aprendizado, a vivencia, o carinho ou a empatia pela visão da mulher senão a própria mulher. Um homem não consegue nem imaginar a dor de uma mulher, a perda que uma mulher teve, a humilhação que uma mulher sofre nos sistemas patriarcais. Apenas uma mulher pode saber o que outra mulher sabe, pois somos uma espelho da outra e isso é incomparável.

Assim também nenhuma etnia pode falar de outra etnia pois os traumas, dores, estigmas sofrido são diferentes. Uma mulher branca não vivencia as situações que uma mulher negra vivencia, nem uma mulher negra a de uma mulher indígena, somos diferentes dentro do próprio gênero feminino. 

A tradição de matriz Afro-Brasileira 

A tradição de matriz afro-brasileira é composta de todas as nações do candomblé e da umbanda e há uma diferença forte entre as duas correntes que ainda se subdividem-se em várias ramificações (nações). 
A tradição de matriz afro-brasileira não segue um livro nem manuscritos, pois todo o conhecimento, doutrina, fundamentos ritos e rituais são repassados de forma ORAL nas diversas iniciações (imersões) de ascensão do conhecimento nesta escola espiritualista.  
A matriz africana, representada pelas casas de candomblés, não é cristã. Por outro lado, a Umbanda é cristã porque crê no Mestre Jesus Cristo e no sincretismo católico, também é africana, é indígena e é oriental no que tange sua filosofia, ritos e rituais, arte além da tradição dos antepassados, é a soma de todas as “raças”, porque para a Umbanda só temos uma raça: a humana. 
A Umbanda é uma religião puramente brasileira e holística. 
A umbanda é o que guia minha fé. 

As mulheres da Tradição 

As mulheres, na Tradição de matriz afro-brasileira, são extremamente respeitadas, são consideradas as Imperatrizes, as Rainhas, as Mães de santo, as Santas Mães (Iabás) orixás femininas. As consideradas Rainhas são as próprias Orixás femininas, principalmente Iansã, Oxum e Obá que foram verdadeiramente rainhas coroadas na África, quando viveram pela Terra, mas temos também as orixás Iemanjá, Naná, Euá, Ia Mi Oxorongá.
  
Como sistema matriarcal, na tradição de matriz afro-brasileira, os cargos mais importantes de um casa de axé candomblecistas são ocupados 
exclusivamente por mulheres: pelas mães de santo, as Iyá, as Ialorixás², Iaquequeres³, as Iyabassês(4) e outros. Na Umbanda existem, também, os mesmos cargos, porem com outras denominações, mas são as mesmas funções e exclusivamente das mulheres, como as cambonas, as cozinheiras do santo, as mães pequenas, as mãezinhas chamadas assim por executar tarefas da “segunda” mãe de santo da casa. 

Outra característica do sistema matriarcal da tradição de matriz afro-brasileira é a egrégora das energias femininas, principalmente a Umbanda, são as energias Yin: do acolhimento, do cuidado, do chazinho, da comida na cozinha, do fogão a lenha, do aquietar-se, do rezo, do benzer, dos cânticos e mantras aos orixás. 
A Umbanda, em todas as ramificações, tem em sua egrégora a passividade, como pode-se observar com o hino da Umbanda:  
Refletiu a luz Divina Em todo seu esplendor É no reino de Oxalá Onde há paz e amor! ...  

O candomblé, em todas suas nações, também são pacificadores, mas possui uma luta principalmente pela resistência inclusive no movimento negro. 

A religião de matriz afro-brasileira é tão feminina em sua essência que a maioria das casas são coordenadas por mulheres, senão for pela função do sacerdócio, é por todas as demais, que são inerentes da tradição. Essa energia - egrégora, é tão acolhedora e feminina (yin) que uma grande parcela dos pais de santo são homossexuais e alguns ainda tem como “donas” do seu Ori (cabeça) uma deusa, uma orixá, uma divindade feminina. 
O sistema matriarcal na tradição da matriz afro-brasileira é a fortaleza, a beleza, a resistência, o amor fraterno e incondicional. 
Uma mãe de santo, em sua missão, além do cuidado espiritual tem como foco o de empoderar suas filhas e seus filhos de santo dando-lhe axé de vida e do poder individual como ser humano especial, fomentando para que cada qual valorize seu próprio potencial, seu talento para ter visibilidade nas suas atividades pessoais, familiares, profissionais e sociais. 

O compaixão religiosa fomentada pelos fundamentos, ritos e rituais do sistema matriarcal da Tradição de matriz afro-brasileira manteve unidos, em torno das mães de santo – sacerdotisas (famílias de santo), todas as comunidades afrodescendentes, no que diz no respeito ao sistema socioeconômico instituído desde o período escravocrata e pela imposição da religião católica, o que exigiu maior cuidado em preservar as práticas culturais coletivas e seus valores.  
Historicamente, algumas mulheres sacerdotisas se destacaram, na conjuntura histórica brasileira, discriminatória e exclusivista, pelas suas atuações na resistência e no movimento de políticas públicas em benefício da tradição de matriz afro-brasileira, tanto no contexto religioso como no cultural.  
Estas mães santas, no transcorrer da vida acolhem espiritualmente todas as pessoas que buscam conselhos ou ajuda espiritual para a cura física ou de alma, sem discriminar ninguém, nem pela raça, cor, religião, classe social, gênero ou doutrina, mesmo aqueles que negam a elas o "direito a diferença". 

Mulheres de destaque  

Antes de citar as mulheres importantes no contexto brasileiro, cito as grandes sacerdotisas da grande Florianópolis: 
Mãe Ida de Xangô (Guilhermina Barcelos) fundou a primeira casa de Umbanda de Almas e Angola em Santa Catarina; Mãe Malvina de Ogum considerada a casa mais antiga de Florianópolis (Coloninha) Mãe Ana de Nanã (Caboclo Turi) primeiro centro de Umbanda da Ponta do Leal, sua casa era frequentada pela alta sociedade florianopolitana; mãe Cristina (Coloninha); mãe Dilma de Iemanjá foi a primeira a colocar o nome da casa de santo como Terreiro de Umbanda Reino de Iemanjá dizendo “o povo de santo tem que parar de se esconder” e também “vamos para as ruas mostrar quanto somos, Ogum é estrada então que haja a carreata de Ogum – São Jorge”; Mãe Ilka de Iansã a flor da Umbanda de Almas e Angola que mais assentou tendas espiritas na grande Florianópolis,; mãe Lídia; mãe Lili (chácara da Espanha) do Caboclo Arruda; mãe Cota (Estreito); mãe Erondina (Balneário do Estreito); Atualmente mãe Bete de Xangô, mãe Lurdinha; mãe Olivia. 
na esquerda com penacho mãe Lili com o Caboclo Arruda e no centro mãe Ana com o Caboclo Turi
Minha ancestralidade consanguínea iniciou com a mãe Ana de Nanã (Caboclo Turi) que foi nossa primeira sacerdotisa; minha mãe carnal – mãe Dilma de Iemanjá (2ª sacerdotisa) que herdou a casa de Umbanda e eu, mãe Kátia Luz d’Omulú (3ª e atual sacerdotisa do axé)
Mãe Dilma na esteira e Mãe Ida em ritual sagrado
A minha ancestralidade de “feitura”: sou filha de mãe Hilka de Iansã e tenho como zeladora atual mãe Nilva de Oxalá (uma das irmã de santo mas velha), sou neta de pai Evaldo de Oxalá e bisneta de mãe Ida de Xangô (a qual foi a responsável em "retirar o vume da minha coroa").
mãe Nilva de Oxalá e mãe Dilma de Iemanjá
No Brasil vamos citar mulheres que a antropóloga Rita Amaral (2007) destaca em sua pesquisa, sobre as mães de santo pela Universidade de São Paulo, que estas mulheres e mães são reconhecida historicamente, e por qualquer filha ou filho de santo, em todo esse Universo Divino. 
Mãe Aninha de Xangô, nascida em 1869, na Bahia - Ela foi capaz de iniciar uma política de diálogo com a sociedade, de modo flexível e inteligente, abrindo espaços de respeitabilidade para sua religião, suas sucessoras e para sacerdotisas de todo o país. Mãe Ciata de Oxum, como era comum às mães-desanto da época, cultuavam seus orixás e ao mesmo tempo era católica, personagem infalível na Festa da Penha. Mãe Mirinha (1924-1989), conhecida como Mirinha do Portão foi outra mãe-de-santo, que mudou a vida dos que a conheceram. Mãe Beata de Iemanjá (1931-2017) foi uma mãe-de-santo, escritora e artesã brasileira, desenvolveu trabalhos relacionados à defesa e preservação do meio ambiente, aos direitos humanos, à educação, saúde, combate ao sexismo e ao racismo. Mãe Senhora – Maria Bibiana do Espírito Santo, Oxum Muiwá, de 1900, descendente da tradicional família da nação Ketu, nasceu na Ladeira da Praça em Salvador, Bahia. Assumiu a direção do Ilê Axé Opô Afonjá após a morte de mãe Aninha, em São Gonçalo do Retiro. Mãe Stella de Oxóssi uma das mais importantes ialorixás do candomblé da Bahia, líder no Ilê Axé Opô Afonjá. Atuante tanto em sua comunidade como nas entidades representativas da tradição africana, é conhecida por recusar a ideia do candomblé como uma seita sincrética, afirmando sua legítima condição de religião no Brasil. Lutou pela democratização cultural, combatendo a discriminação de negros, pobres, mulheres e dos socialmente marginalizados – a mesma que durante muito tempo 
marcou o candomblé – abriu perspectivas para inúmeras pessoas e comunidades antes desvalorizadas. “todo terreiro é, em princípio, uma família, porque é uma família espiritual”. Menininha do Gantois – Escolástica Maria da Conceição Nazaré, filha de Oxum, considerada a grande mãe-de-santo do Candomblé no Brasil. Foi uma grande líder espiritual que ajudou a tornar mais aceita a religião. 
 Impossível citar todas as mulheres fortes, empoderadas, guerreiras, donas dos seus axé, todas as mães-de-santo, negras, mulatas ou brancas, de todas as regiões do país que fazem nossa Tradição resistir aos diversas estigmas e preconceitos (Amaral, 20075) 

Este é o caminho que eu percorro, uma jornada no cuidado e é minha forma de honra-las!!! 

Sarava a Umbanda! (109 anos de fundação) 
Sarava todas as tradições sagradas! 
Sarava Oxalá e todos os orixás! 
Sarava Mestre Jesus Cristo, Mãe Divina e Zambi!"

Que tenham aproveitado um pouco desse texto-palestra ministrado

Benção de Deus Mãe e Deus Pai recaiam sobre todas e todos nós!!!

Gratidão 

1 Sacerdotisa de Umbanda da Casa Luz d’Omulú – Associação Beneficente do Terreiro de Umbanda Reino de Iemanjá, 7º grau iniciático de Umbanda de Almas e Angola.  
2 Ialorixás – as Iyá são as mães de santo 
3 Iaquequerê são as mães pequena da casa 
4 Iyabassê são as cozinheiras de santo                                                     
5 AMARAL, Rita. Mães-de-Santo, mães de tanto: O papel cultural das sacerdotisas dos cultos afro-brasileiros. Os Urbanistas: Revista de Antropologia Urbana. Ano 4, v. 4, n. 6, dez/2007 

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Sistema Organizacional - Parte 2

I – HIERARQUIA ORGANIZACIONAL GENEALÓGICA
A primeira hierarquia do ritual de Almas e Angola é a família de santo – a Genealogia. A família-de-santo é o aspecto constitutivo da estrutura de rede do povo-de-santo, conforme conceitua Tramonte (2001).
A ponta da pirâmide organizacional do ritual de Almas e Angola, no sistema genealógico, é a mãe Ida de Xangô – ver figura acima que representa a primeira formação genealógica da ritualística.
A família-de-santo começa pela mãe-de-santo ou o pai-de-santo, chefe do terreiro. Os filhos-de-santo são todos os que foram iniciados pela mãe ou pai-de-santo. Muitas vezes, esta linhagem se mistura com a linhagem biológica. Lima (1977), que analisou o sistema da família religiosa baiana, diz que entre os negros africanos, em situação de escravidão, a “linhagem-d- santo” não coincidia com a linhagem biológica, já que raramente era possível que esta fosse reconstituída no contexto escravista. Aponta, ainda, que foram raros os casos em que a linhagem da família se conservou, com alguma coerência estrutural, na organização dos terreiros da Bahia.
Segundo Tramante, as genealogias apresentam maior consistência do lado da linhagem religiosa, mais facilmente identificável dos que a biológica, fragmentada pelo sistema escravocrata. A partir destas considerações, pode-se imaginar a importância que assume a família-de-santo entre os adeptos das religiões afro-brasileiras, penetrando no vazio emocional e social deixado pela família biológica.
No ritual de Almas e Angola, a família-de-santo se forma da mesma maneira que todo ritual de origem africana de santo; além se considerar que os laços familiares constituem os elos da rede do povo-de-santo, unidos por meio da iniciação no santo. Os compromissos firmados por meio desses laços constituem compromissos aceitos com nas ordens iniciáticas em geral, porém, percebe-se que mais amplos no plano das obrigações recíprocas e muito mais densos no âmbito psicológico das emoções e do sentimento. São laços efetiva e afetivamente familiares. A mãe-de-santo é, para o filho-de-santo, é aquela que o recebe em gestação do santo, fazendo nascer novamente para uma nova vida religiosa, através das camarinhas, iniciações, imersões.
Na família-de-santo, a hierarquia, as normas, as punições e premiações são mais rígidas e mais definidas que na família biológica, cuja estrutura vive atualmente um momento de crise, com a dissolução dos antigos valores e a indefinição na construção dos novos. Na família-de-santo, as regras, as promoções, a hierarquia mantêm-se basicamente as mesmas ao longo do tempo. Segundo Tramonte, mesmo com a rigidez da família-de-santo, a “velha guarda da religião”, leia-se, os mais antigos “no santo”, queixem-se da ausência de “respeito e consideração” da parte dos mais jovens ao comparar a obediência dos jovens atuais com a que devotavam os filhos-de-santo de antigamente aos seus pais ou mães-de-santo. Muitas das tradições ainda se mantêm, apesar de menos rígidas.
Dentro da hierarquia da família-de-santo, forma-se com a mãe-de-santo, que é uma sacerdotisa em primeiro grau; vêm depois os filhos-de-santo, os netos, os bisnetos, os tataranetos.
Em Santa Catarina, Almas e Angola ficou conhecido quando a sacerdotisa Mãe Ida – Guilhermina Barcelos -, a pedido de seus guias espirituais, foi ao Rio de Janeiro com o intuito de se “fortalecer”, bem como ao templo que dirigia, já que o sacerdócio exigia conhecimento e sabedoria e naquela época, década 50, não havia curso de Teologia ou qualquer outro para subsidiar as orientações aos adeptos sob sua responsabilidade.
Ao retornar da cidade do Rio de Janeiro, readaptou o templo para praticar o ritual com o auxílio do Pai D'Ângelo que assumiu a zeladoria do axé. Os primeiros médiuns a receberem as “obrigações de santo” na nova ritualística pelas mãos de Mãe Ida foram: Aldo Cocoroca, Maria de Jesus Geraldo – a Bia de Obaluaê -, Telles de Xangô Afonjá, Valmor, Alci de Ogum, Carmem de Obaluaê, Evaldo de Oxalá. Outras médiuns também iniciadas foram a Maria da Glória de Obaluaê e Oxum, a Dina de Obaluaê e Iemanjá – que recebe a Vovó Rita (no Saco dos Limões), Erondina de Xangô. Quando pesquisamos as informações sobre os inícios da história da nossa nação [1], soubemos que estes nomes foram todos atribuídos pela mãe Ida, ainda em vida, a cada um dos iniciados. Mãe Ida é a precursora do ritual de Almas e Angola em Santa Catarina. Assim iniciou a primeira metodologia hierárquica do ritual de Almas e Angola, sendo a matriarca a ponta dessa pirâmide hierárquica.
Para formação da hierarquia genealógica temos como base a mãe Ida de Xangô (precursora) – 1º grau –, que teve seus filhos-de-santo, dentre deles o Pai Evaldo d’Oxalá – 2º grau –; que teve seus filhos (netos da mãe Ida), dentre eles mãe Hilca de Iansã – 3º grau –, que teve seus filhos (bisnetos da mãe Ida), dentre eles, mãe Dilma Ana de Iemanjá – 4º grau –, que teve seus filhos (tataranetos de mãe Ida), dentre eles mãe Tânia de Oxalá – 5º grau –, que teve seus filhos (tataraneto de mãe Ida) – 6º grau, e assim sucessivamente (ver fig. 01).
A descendência escreve Tramonte, constitui o principal patrimônio espiritual da família-de-santo. Afirma, ainda, que “são, portanto, motivo de grande prestígio social e religioso e reconhecimento público do líder. É o caso de Guilhermina Barcelos, a conceituada Mãe Ida, que cita com orgulho seu “parentesco de santo”. A longa e exaustiva lista de seus filhos-de-santo “feitos”, bem como as raízes de sua ascendência, é um signo marcante de sua ancestralidade “no santo” e, portanto, prova da solidez de sua formação dentro da tradição religiosa afro-brasileira.





[1]  Informações colhidas pessoalmente de Mãe Ida em 1996, pela autora, por ocasião da obrigação de 14 anos de ialorixá de Almas e Angola da mãe Dilma de Iemanjá, no TURI. Estas informações podem ser confirmadas no site de Clóvis Tupiniquim Barbosa (site: www.saocosmedamiao.com.br) e nos livros de Giovani Martins, cfr. ref. bibliográficas.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Portal Mágico ... Só os corajosos entram


Quando vemos um Portal logo queremos entrar.

Um Portal nos convida para entrar e compartilhar momentos numa jornada magica de completude.

Quem sente este chamado esta pronto para iniciar uma jornada linda e profunda. Esta pronto para ser um buscador. Um Buscador de Si Mesmo.

Ser um buscador de si é o caminho mais fácil de ser alegre, inteiro, pleno, de viver com abundancia e fartura. Para esta jornada é necessário entrar no grande mistério da vida, onde tudo se revela. É necessário entrar no portal do Conheça a si mesmo.

Quando inicia a grande jornada no Conhecer a si mesmo a consciência expande e o aprendizado vem porque passa pela necessidade de obter conhecimento, síntese e entendimento de todo o movimento Cósmico, desde a criação até aos dias de hoje.

Cada vez mais nos aprofundamos em Conhecer a si mesmo mais nos tornamos um Ser mágico. A transmutação é inevitável.

Conhecer a si mesmo passa a identificar que tudo que acontece nos dramas da vida são vividos por sua escolha inconsciente porque esta vivendo em padrões mentais coletivos negativos.

A resistência ou a negação em conhecer a si mesmo mantem a energia da escassez, da falta de dinheiro, do excesso de gastos, da crise financeira, da intolerância, do drama familiar, da tristeza, da fragmentação, do desespero.

Identificar seu mestre em cada situação é inevitável, entender que mestre é qualquer ser humano que tornou-se instrumento divino para lhe chamar a atenção num determinado “gatilho” que lhe mantem ainda num padrão negativo de vida.

Nada esta fora de si. Tudo esta em Si. Todos estão em Si. O outro é apenas um instrumento divino para chamar a atenção sobre determinada situação. Ter razão e opinião sobre qualquer situação é mascarar a verdadeira essência do seu Ser. É viver fragmentada e cheia de dores e muros, mantendo pessoas afastadas de si para não encarar sua Verdade. Não é necessário nem obrigatório provar nada há ninguém. Isto é contigo mesmo.

Quando você enfrenta uma certa situação com vizinhos, no ônibus, no trabalho e esta situação torna-se repetitiva procura em si mesmo o que é necessário para revelar em si mesmo a solução do problema. Quando se coloca a consciência para um determinado problema dentro de si mesmo, o oculto se revela, algumas vezes aparece uma lembrança, trabalhe com ela, as vezes se repetir novamente a situação, entenda que ainda é necessário aprofundar o Conheça a Si Mesmo porque ainda há algo para ser transmutado, transformado alquimicamente.


Para Conhecer a si mesmo é necessário de um Guia, Mestre, Professor, Curador que já esta na jornada há algum tempo, não há aprofundamento sozinho apenas com leituras porque o estudo é a parte mental do processo – o conhecimento, a síntese acontece na relação com o outro e no servir; para cada etapa da jornada há um Mestre; o Mestre chega quando o discípulo esta pronto, isto é, o discípulo esta aberto para o aprendizado e quanto mais humilde o aprendiz o Mestre é mais Top, mais simples, mais humano, mais desapegado.

Seja Inteiro
Seja Pleno

Conheça a Ti Mesmo. Empodera a Ti Mesmo. Seja Mestre de si Mesmo.

Boa jornada!